segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

AS AVENTURAS DE DOM PEDRO I E LEOPOLDINA: O CASAL DA INDEPENDÊNCIA

       AS AVENTURAS DE DOM PEDRO I E LEOPOLDINA: O CASAL DA INDEPENDÊNCIA




        Olá, meus caros amantes da História! Tudo bem com vocês? 

     Em "Homenagem" à abertura do blog, vamos hoje começar o nosso texto em grande estilo: abrir o blog com uma dica de livro para aqueles que "curtem" o inicio do nosso período imperial: apresento-lhes o livro "Leopoldina e Pedro I: A vida privada na Corte", da escritora goiana Sonia Sant’Anna.
O Romance Histórico de Sônia Sant'Anna. Entre Leopoldina e Dom Pedro I se vê o Palácio São Cristóvão, (Hoje, Museu Nacional) sede do governo imperial de 1808 até 1889!  


         A obra não é um livro comum de História. Pelo contrário: esse é daqueles romances históricos “dos bons” mesmo, ou melhor dizendo, (segundo a própria autora), uma História romanceada, na qual se “narram fatos históricos documentados, empregando técnica narrativa de romance[1]” Uma novela bem real da vida em comum e das aventuras – e principalmente  desventuras, algumas dramáticas! –  do  casal que promoveu a Independência do Brasil: Dom Pedro I e a  Princesa Leopoldina.
Dom Pedro I do Brasil ( ou Dom Pedro IV, em Portugal) o Rei Soldado (1798 - 1834), retratado por Simplício Rodrigues de Sá - Museu Imperial de Petrópolis, RJ.



        A narrativa está dividida em uma introdução e mais 4 capítulos. A introdução mostra uma Leopoldina romântica desembarcando de navio no Rio de Janeiro em 1817 e sonhando em ser feliz com Dom Pedro. Já os capítulos de 1 a 4, mostram o lado da família de Dom Pedro (Casa de Bragança) e da de Leopoldina (Casa de Habsburgo).

         Do lado de Dom Pedro, o 1º Capítulo, intitulado “O Noivo”, quebra a ordem cronológica e volta no tempo,  narrando sobre os Bragança, desde a memorável confusão – digna de um filme! – da saída da Família Real de Portugal (Dom João estava transferindo toda a Corte para o Brasil) prestes a ser capturada “com a boca na botija” kkk, pelas tropas napoleônicas capitaneadas pelo General Jean-Andoche Junot (novembro de 1807), até a chegada da noiva D. Leopoldina no Rio de Janeiro, em 5 de novembro de 1817.  Ou seja, praticamente 10 anos.
Napoleão Bonaparte, Imperador da França (1769 - 1821) - Jacques-Louis David,1800, Museu Kunsthistorisches. Fonte: Wikipedia




Napoleão retratado conquistando a Europa!!

      De fato, nesses 10 anos tem muita História boa pra contar: a autora revela as travessuras de Dom Pedro ainda criança, as “intrigas, mexericos e armações” da Rainha Carlota Joaquina, a vida noturna de Dom Pedro, culminando na paixão do “Príncipe afogueado[2] pela dançarina francesa Noémi Thierry; as brigas entre (o casal) Carlota Joaquina e Dom João (sim, eles já estavam separados e até morando em Palácios diferentes kk) e ainda outro fato curiosíssimo: a chegada do Conde Van Hogendorp, um General que lutou nas Guerras Napoleônicas, e fidelíssimo a Napoleão, que, [como foi impedido de embarcar com o Imperador corso pro degredo na ilha de Santa Helena, perto da África],  veio “caladinho” se auto exilar no Brasil, morar como um ermitão nas encostas do Corcovado e que depois  se tornou muito próximo a D. Pedro: ele frequentemente visitava (as vezes com Leopoldina) e ouvia os conselhos do General, só pelo fato de ser fã de Napoleão Bonaparte, o maior inimigo de seu pai, Dom João – vejam que ironia do destino!!! Só Deus sabe o que seu pai (Dom João) achava disso.. kkk.

Dom João VI e Carlota Joaquina:  uma esposa "turbulenta" que vivia em pé de guerra com o Rei  



VIANNA, Armando. Chegada de D. João à Igreja do Rosário no Rio de Janeiro, [s.d]. Museu da Cidade, RJ.


 
Dom João (1767 - 1826), um personagem curioso:  ele gostou muito do Brasil, empreendeu um série de transformações no país,e se dava muito bem com a nora,Leopoldina. Sobre ele, afirmou Napoleão: O único que me enganou!!!



      Já do lado de D. Leopoldina, Sônia Sant’Anna também volta no tempo e conta-nos sobre a família Habsburgo – uma das mais poderosas dinastias da Europa,  ficou no Poder por mais de 700 anos!!!), a  educação primorosa e a cultura extraordinária de Leopoldina, seus dons musicais ao piano, sua devoção pelas ciências naturais (zoologia, botânica e a sua paixão: a mineralogia!); a dura vida das Guerras Napoleônicas, as invasões  à Áustria que obrigavam a família fugir das Tropas francesas, as humilhações do Imperador francês à Família Habsburgo: O Rei austríaco Francisco I (pai de Leopoldina) se viu obrigado a ceder sua própria filha Maria Luiza a se casar com Napoleão.
      
       Aqui também temos outras curiosidades: Maria Luiza era a irmã predileta de Leopoldina, ambas eram confidentes e trocaram muitas cartas, mesmo quando se separaram[3]: Maria Luiza foi morar na França, e teve um filho com Napoleão, intitulado a princípio, Rei de Roma. Depois da união passageira  entre França e Áustria, veio a, digamos, “resposta” do sogro: Metternich, o todo poderoso Ministro de Francisco I, liderou uma coalização de forças europeias que empreendeu a histórica "Batalha das Nações”, obtendo uma derrota histórica sobre Napoleão. Ainda assim, o Exército do “gênio das batalhas” matava uma média de 3 soldados europeus pra um francês (incrível, não?)

 Maria Luiza, Imperatriz da França e irmã de Leopoldina
(Autor desconhecido - Fonte: wikipedia)



      Enquanto estava nas campanhas pelo Poder na Europa, Maria Luiza também “dava o troco” e traiu Bonaparte com o General Neipperg. Com o fim da batalha, Napoleão mergulha no exílio imposto pelos seus inimigos (primeiro na ilha de Elba, e depois na humilhante e longínqua  Santa Helena, onde doravante a estrela se apaga!) mas  Maria Luiza, que não era boba nem nada, voltou para a Áustria, mas conservou o título de Imperatriz dos Franceses! E ainda casou com Neipperg!!!

Adão Adalberto Neipperg, (1775 - 1829), o amante da Imperatriz Maria Luiza.Eles se casaram secretamente em Parma e tiveram 3 filhos!!!   Essa imagem  é provavelmente de 1810.
(Fonte: Wikipedia)


        Por fim, a escritora, mostra as festas do Congresso de Viena (que completa 200 anos agora em 2015!! Mas isso já é outra história, depois vocês me dizem se  querem outro post, quem sabe!), na qual esta cidade se tornou temporariamente a “Capital” da Europa, a estratégia de Dom Rodrigo Navarro de Andrade (Diplomata português a serviço de Dom João VI) em convencer Leopoldina a vir para uma terra tão distante, selvagem, quente  (o  clima quente é péssimo pra uma austríaca, como ela, lembrem-se disso!!) como o Brasil para se casar com Dom Pedro e ainda o luxo que o Marquês de Marialva – também a serviço de Dom João –  esbanjou para impressionar a Áustria para fazer acreditar a toda família Real austríaca que o decadente Portugal ainda era um Reino Poderoso... De fato, nesse caso, Dom João fez um gol! A Áustria se rendeu ao brilho português!


“Príncipe Pedro (direita) ordena o oficial português Jorge Avilez(esquerda) retornar a Portugal após sua rebelião malsucedida. José Bonifácio (em roupas civis) pode ser visto ao lado do príncipe”. Fonte: Wikipédia

Nos capítulos finais, a escritora volta ao presente (1817) e as histórias de Dom Pedro e Dona Leopoldina, como na melhor das novelas, se entrelaçam, e a escritora passa a mostrar a lua de mel e a vida matrimonial deles, contextualizada pelas lutas de Independência do Brasil, ( sim,   houve guerras; a independência não foi tão pacífica como vem estampada em muitos livros didáticos, não!)  e depois no surgimento daquela que seria o maior pesadelo na vida de Leopoldina: o surgimento da sua arquirrival Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, a maior de todas as amantes de Dom Pedro I! E aí, deu vontade de ler ou não?
Domitila,a Marquesa de Santos (1797 - 1867), a grande paixão de Dom Pedro I: ela se tornou a “Imperatriz de fato” para o escândalo de todo o Brasil e a Europa!!



        O livro é recheado de pequenos desenhos, que sem dúvida descontraem o texto,  e  belas notas de rodapé, que são verdadeiras “mini-aulas” de História, explicando sobre o contexto internacional, as guerras napoleônicas, a política, os reis,  os músicos, artistas, diplomatas, e demais  pessoas que se destacaram na época. Além disso o romance vem permeado com trechinhos de cartas da própria Leopoldina – que já é em si um documento histórico valiosíssimo!!

 A então Princesa Leopoldina presidindo a Reunião do Conselho em                             2  de Setembro de 1822: ela protagonizou um momento histórico na Independência e se tornou a primeira mulher a governar o Brasil!!
Sessão do Conselho de Estado. [s.d]. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. 




    Bom, pessoal, o livro está aí! Eu gostei e assino embaixo. A principal virtude é que ele desperta a curiosidade e o interesse  pelo tema, além de recuperar a memória de D. Leopoldina, uma nobre que foi adorada no nosso país, mas que hoje está esquecida, tanto no Brasil como até mesmo na Áustria!! Agora quero ouvir a opinião de vocês sobre o meu texto ou o livro, se já leram ou não. O objetivo é que a gente vá construindo a reflexão histórica. Deixe seu recado, faça um comentário!  Vou ler tudo, suas sugestões serão muito bem vindas! Você também faz parte do blog. Abraços Cabralinos!!

 Dona Leopoldina (1797-1826) cercada pelos filhos D.Maria da Glória (a Carioca que se tornou Rainha de Portugal!!), D. Paula Mariana, D. Francisca Carolina e D. Januária Maria. No seu colo está Dom Pedro II, (nosso futuro Imperador) com apenas um ano de idade! 
FAILLUTI, Domênico, Retrato de D. Leopoldina de Habsburgo com seus filhos (Maria Leopoldine of Austria Family / Ritratto in abiti ottocenteschi di Maria Leopoldina d’Absburgo con i figli), 1921, Domenico Failutti (Pintor Acadêmico Italiano, 1872-1923), óleo sobre tela, 233 × 133 cm (91.7 × 52.4 in), Museu Paulista/USP (“Museu do Ipiranga”), São Paulo, Brasil
   Fonte: wikipedia e http://gilsonsantosdotcom.files.wordpress.com/2013/04/domenico_failutti-maria_leopoldine.jpg

Fontes de Pesquisa:
Sant’Anna, Sônia. “Leopoldina e Pedro I: a vida privada na Corte” , Jorge ZAHAR Editor, 2004.

http://www.soniasantanna.com.br/artigos.htm - vejam o texto “UMA HISTÓRIA ÍNTIMA DO CASAMENTO DO IMPERADOR” escrito pela cientista política e pesquisadora Isabel Lustosa.


“Maria Luísa de Áustria” Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Lu%C3%ADsa_de_%C3%81ustria Acesso em 10.01.2015.






[1]“Romance e História: o encanto da escrita”. Disponível em: http://www.jornalolince.com.br/2010/arquivos/romance-historia-www.jornalolince.com.br-edicao031.pdf Acesso em 01.01.2015.

[2] “A prole bastarda e imperial” Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/a-prole-bastarda-e-imperial Acesso em 06.01.2015. Dom Pedro foi chamado de “Príncipe afogueado” por Otávio Tarquínio de Souza, um dos principais biógrafos do Imperador. 

[3] Na verdade, Leopoldina e Maria Luiza trocaram cartas até 1826, com a morte prematura de Leopoldina. 

11 comentários:

  1. Gostei da seleção das imagens, das legendas, da resenha. Um atalho agradável para a aridez da wikipedia e para o encontro com o livro.

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  2. Só hoje vi este blog. Agradeço as boas palavras a respeito do meu livro. Um abraço. Sonia Sant´Anna.

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  3. Obrigado, Professora Maria Emília Monteiro Porto! Seja muito bem vinda ao Blog!! Fico feliz por ter gostado das seleções que apresentei. Abraço =)

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  4. Sonia Sant'Anna, que honra você aqui no Blog! Adoro o seu estilo de escrever, com uma linguagem leve, direta, agradável, clara e sedutora para o público. Só sosseguei quando terminei de ler o livro de Leopoldina e Pedro I, e pude sentir a mensagem que você quis passar com a angústia (no último capítulo) dessa Rainha tão querida pelos brasileiros (no Primeiro Reinado)e hoje tão esquecida! É uma narrativa emocionante!

    A impressão que tive é que você tem o dom de transportar as sensações que você estava sentindo na hora em que redigia o romance histórico para as páginas do livro!!! Vou começar a ler o livro dos Barões do Café. Esse livro da Leopoldina e Pedro I era pra ter sido mais um livro premiado!! Abraço.

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    1. Caro Lúcio. Só hoje vi seu comentário. Um grande abraço

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    2. Aqui um link (espero que abra) para um artigo sobre nossa primeira imperatriz, publicado pela revista Nossa História em julho de 2014

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    3. http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/vida-de-infanta

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  5. livro excelente. Confesso que Sonia me fez odiar Pedro I.

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  6. Amigos! O link acima é uma matéria especial sobre a Imperatriz Leopoldina! Nela está contida um artigo sobre a Leopoldina de autoria da escritora Sonia Sant'Anna. Vale a pena ler!! Abraço do Cabral!

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  7. Olá, Sonia! Eu tenho essa edição da revista, mas mesmo assim, muito obrigado! Você está escrevendo mais algum livro? Seu estilo é excelente e seu público é a prova disso! Seja bem vinda sempre ao meu Blog!!

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  8. Olá, César! Com certeza, o livro é excelente! Dom Pedro não foi um bom marido, mas foi um ótimo pai. Um homem cheio de virtudes e defeitos ao mesmo tempo! Um abraço, meu amigo, e volte sempre ao meu Blog!! Qualquer coisa, é só falar! =)

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