sábado, 17 de janeiro de 2015

ENTREVISTA COM O HISTORIADOR JAIME PINSKY!

Olá, pessoal, tudo bem? Trago aqui um link compartilhado pelo meu colega historiador, Max Andrade! O tema é uma interessante entrevista sobre a importância de estudar História, inclusive como um exercício de autoconhecimento! 
Abraços =) 
Cabral.

Link compartilhado por Max

"Porque estudar as primeiras civilizações? Entrevista com o historiador Jaime Pinsky: 

Pergunta: Com o mundo conturbado de hoje, mil coisas acontecendo, qual o sentido de se estudarem civilizações que já não existem mais e mesmo culturas pré-históricas?


Resposta: Atual e presente não é o fato isolado, mas a maneira pela qual nós o abordamos. Que eu saiba, quase todo o mundo desliga o rádio das 7 às 8 da noite quando há um noticiário referente aos fatos do dia; no entanto, há um enorme interesse pelo espírito humano, onde e quando quer que ele tenha produzido algo universal. A urbanização das cidades mesopotâmicas, as obras faraônicas, o monoteísmo hebraico e mesmo a habilidade demonstrada pelas tribos “pré-civilizadas” em resolver os conflitos internos são manifestações do homem, como tais dizem respeito a todos os homens. Procurei trazer as questões da Antiguidade até o presente, despindo-as do cheiro de mofo que uma erudição oca cria nelas. Tenho a convicção de que, dessa forma, estudar História passa a ser um exercício de autoconhecimento, que permite ao ser humano uma percepção mais profunda de sua vivência através do conhecimento de sua herança.

O Historiador Jaime Pinsky, professor aposentado da Unicamp, autor do livro "Por que Gostamos de História"

P: Pelo entusiasmo com que você descreve as primeiras sociedades pré-históricas, parece que as considera melhores do que as nossas. Você gostaria de viver naquela época?


R: Gosto de viver minha aventura da vida nos dias de hoje, o que não quer dizer que não poderia ser feliz se tivesse nascido há três, seis ou dez mil anos. Mas a questão que coloco não é de preferir aqui ou lá, hoje ou ontem. Sugiro apenas que se pare um pouco para olhar experiências sociais diferentes das nossas, sem preconceitos. Nós temos uma tendência de considerar nossos valores, comportamento, religião e práticas os corretos, o ponto de referência de tudo. Viramos o umbigo do mundo e não percebemos outros centros de gravitação. Veja bem, falamos da divindade dos outros com artigo e em minúscula (por exemplo, “o deus dos egípcios”), desqualificando-a desde logo ao restringirmos sua ação como um dos deuses de um povo num momento histórico determinado. Ao nosso porém, referimo-nos como Deus, com maiúscula, sem artigo e sem qualificações, absoluto que pretendemos que ele seja. Da mesma forma, consideramos exóticos os hábitos alheios sem nos darmos conta de que muitos dos nossos hábitos seriam ridículos e risíveis se vistos de fora. Acredito mesmo que conhecer e respeitar práticas diferentes seja um exercício de tolerância muito útil para todos nós. E eu tentei mostrar que nós, civilizados, automatizados e informatizados, nem sempre encontramos as melhores soluções para os problemas da vida social. Afinal, não creio que houvesse mais gente com fome nas sociedades neolíticas do que na nossa...


P: Você fala de espirito de aventura como um dos elementos que deflagram a ação do homem. Esse espírito seria uma categoria histórica equivalente à luta de classes ou algo parecido?


R: Descontando a ironia da pergunta, devo dizer que pensei muito se deveria ou não deixar no texto a passagem que trata do assunto. Optei por deixar. Acho que não se pode reduzir o processo histórico a mecanismos determinados. Claro que o homem não tem liberdade total de ação, uma vez que tempo, espaço, condição social, vinculação política, formação ideológica e outros fatores constituem elementos limitadores de sua ação. Mas não aceitar que ele tenha uma autonomia – ainda que relativa – seria transformar seres humanos em autômatos, a vida humana em vegetal. Continuo achando que há categorias históricas e categorias supra-históricas. A estas últimas pertencem, entre outras, coragem medo e amor, categorias que encontram formas de se manifestar em todas as sociedades humanas".
Fonte: PINSKY, Jaime. As Primeiras Civilizações. 15. ed. São Paulo: Contexto, [200-]. p. 2,3.


Max Andrade é Licenciado em História pela UFRN.

Nenhum comentário:

Postar um comentário