domingo, 8 de fevereiro de 2015

CUBA À (VEREADORA) BRASILEIRA?



Olá, meus caros amantes da História! Tudo maravilha?

Hoje quem vai escrever pra vocês é o meu colega Felipe Tavares. Trata-se de um artigo muito interessante sobre um Mapa de um Brasil totalmente reconfigurado, fragmentado e despedaçado por sentimentos separatistas fruto de um pensamento colonizado.Ele relaciona esse modo de pensar com a Guerra Civil de 1932.

 O post está ótimo, confiram!!!

E você, o que acha do pensamento colonizado??? 
Deixe seu comentário pro Felipe ler e falar com vocês abaixo do post! 
O texto é dele; só o título é meu!
Abraços Cabralinos =)
Cabral Lima

CUBA À (VEREADORA) BRASILEIRA?


Por Felipe Tavares

Hoje, voltando para casa, encontrei um amigo que me contou que esse mapa, que eu conhecia, havia sido formulado por uma vereadora do município de Natal. A primeira vez que vi essa representação, achei que era apenas mais uma obra de ignorância da humanidade e, portanto, ignorei-o.
Entretanto, após descobrir que ele foi formulado por uma de nossas legisladoras, detive-me mais em pensar a respeito e reparei que eu havia iniciado a leitura de um exemplar da Revista de História da Biblioteca Nacional que ajudava a explicar historicamente o pensamento de Eleika Bezerra.
O exemplar em questão trata de uma guerra civil ocorrida no Brasil nos anos 1930. Sim, amigos e amigas, o Brasil passou por uma guerra civil, ao contrário do que se diz e se pensa.
Ela ocorreu mais precisamente no ano de 1932 e colocou de um lado o governo provisório de Getúlio Vargas e, de outro, o estado de São Paulo, que naquele momento pegou em armas e foi para o front a fim de exigir que o novo presidente do país formulasse uma Constituição que limitasse seus poderes e que protegesse o modelo federativo, enfraquecido com o golpe de 1930.
         Nessa ocasião, os paulistas lutaram contra o restante dos estados brasileiros e passaram a pedir que seus cidadãos doassem especialmente ouro para financiar a batalha. Não foram poucos os que chegaram com colares, brincos e, principalmente, alianças que logo foram derretidos, transformados em barras e depois em balas.
         O sentimento entre muitos paulistas era o de que São Paulo era a "locomotiva do país", ou seja, era um polo econômico que sustentava financeiramente toda a nação. Por isso, seus desejos políticos não poderiam ser ignorados, deveriam ser ouvidos e seguidos. Não fosse São Paulo, o país seria mais pobre do que já era e não teria tipo algum de modernidade; seria apenas atraso econômico e social.
         Outras pessoas de outras regiões, no entanto, pensavam diferente. Na região hoje conhecida por Nordeste e também no Norte havia o sentimento de que Getúlio Vargas praticara um tipo de equilíbrio de poder mais justo, abrindo a possibilidade para que estados mais pobres tivessem maior expressão de nível nacional, o que antes era dificultado pelo poderio de São Paulo, de onde vinha a maior parte dos presidentes.
Além disso, as camadas mais pobres enxergavam em Vargas alguém que beneficiava as populações do interior do Nordeste através de obras de combate à seca promovidas por um órgão chamado DNOCS.
         Em períodos de estiagem, eram destinadas verbas pelo governo federal para os governos locais que serviam para gerar empregos, evitar a migração e combater a fome. A construção de estradas e prédios públicos foi uma das estratégias adotadas para se atingir esses fins. A população dessa região, também por isso, foi uma das que mais se engajou na luta contra os paulistas e não foram poucas as pessoas que se alistaram voluntariamente para combater contra o referido estado do Sudeste.
Getúlio venceu. Como se pode perceber, portanto, a vontade de uma elite paulista de se fazer ouvir a qualquer custo não consiste em novidade. Ela faz parte da história de nossa República e não é tão surpreendente para quem conhece um pouco de História.
 Mas eu não poderia encerrar esse humilde texto sem voltar a nossa querida vereadora. Apesar de morar em uma cidade no Nordeste, ela se rendeu a um discurso que tem muita força no Sudeste do Brasil, que é a vontade de excluir do mapa do país a nossa região pelo fato de ela haver votado maciçamente em uma determinada candidata. Aqueles que não aceitam a derrota legítima nas urnas mostram que não respeitam a democracia, que é o direito à discordância.
Mas parece que a parte mais complicada não é essa. A vereadora fez questão de revelar para o mundo ouvir que, embora legisle para uma cidade do Nordeste, o seu pensamento em parte é formulado por um pensamento muito forte na região mais rica do país. Nas ciências humanas isso tem nome. Dizemos que esse pensamento é colonizado.


https://br.noticias.yahoo.com/vereadora-em-natal--rn--prop%

Felipe Tavares é Professor de História e Mestre em História pela UFRN.

4 comentários:

  1. Muito bom o artigo Lúcio Cabral, o Felipe traçou um panorama entre a colocação da vereadora Eleika nas eleições de 2014, e a revolução constitucionalista de 1932. Neste ponto realmente o sentimento de separatismo é o mesmo, principalmente pela questão de não concordarem com o governo. No caso da revolução constitucionalista, as nomeações de interventores por parte do Governo Provisório de Vargas (1930 a 1934), acabava com a autonomia dos estados, e atingia então o sistema federalista que atendia os interesses das elites paulistas especialmente agrária. Já no caso do último pleito, o separatismo é alegado porque o atual governo segundo os separatistas "ira afundar o Brasil no Comunismo ala Cuba", indo de contrário ao projeto político de "progresso e desenvolvimento" defendido pela elite política agrária paulista que ainda mantém-se viva desde meados do século XIX. Esse detalhe das barras de ouro e alianças derretidas para virar bala é algo interessante, e pode ser comparado a uma curiosidade que remete ao período da Segunda Guerra Mundial, onde sinos de Igrejas italianas foram derretidos, e transformados em bolas de canhão para serem detonados pelas tropas fascistas de Mussolini nas batalhas que se sucederam.

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  2. Obrigado, Gilliard Girorme! O artigo de Felipe Tavares faz uma ponte interessante entre o passado e o presente. No tocante ao passado, ele traz informações muito interessantes da Revolução de 1932, que não estão no livro didático e que nem sempre são ensinadas, mesmo na Graduação em História!

    Concordo com você, o detalhe das barras de ouro e das alianças derretidas em barras e depois em balas é interessantíssimo, especialmente porque a Revolução de 1932 antecede a própria Segunda Grande Guerra Mundial (1939 - 1945)!!!

    Abraços Cabralinos =)

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  3. Obrigado, Gilliard Girorme! O artigo de Felipe Tavares faz uma ponte interessante entre o passado e o presente. No tocante ao passado, ele traz informações muito interessantes da Revolução de 1932, que não estão no livro didático e que nem sempre são ensinadas, mesmo na Graduação em História!

    Concordo com você, o detalhe das barras de ouro e das alianças derretidas em barras e depois em balas é interessantíssimo, especialmente porque a Revolução de 1932 antecede a própria Segunda Grande Guerra Mundial (1939 - 1945)!!!

    Abraços Cabralinos =)

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